segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sigh

E uma vez mais ele foi desaparecendo debaixo do meu olhar carregado já de saudade e lágrimas...
Já devia estar habituada, não é nem a primeira, nem a segunda vez que ele sai de fora do país para conseguir emprego, para conseguir sobreviver, afastando-se, automaticamente, de nós, a sua família, que sempre fomos tão unidos, tão juntos para tudo.
Estava sentada ao seu lado, e do nada olhei para o relógio. Faltavam apenas 10 minutos para que ele nos abandonasse de novo. Entrei em pânico, notou-se, o meu riso era mais histérico e nervoso, quis falar de tudo e mais alguma coisa, atropelando as palavras que tentava fazer soar. Ele riu debilmente do meu nervosismo, apercebendo-se. O pior foi quando disse: ''E pronto, terei de ir.'' e se levantou do sofá, deixando o lugar ao meu lado vazio. Entristeci. Ele começou a despedir-se de nós todos, e ao sairmos de casa para os carros, deixou a minha avó a chorar na poltrona pesada da sala. Custou ainda mais, pois sei sempre que aquele choro significa que não o verei durante muito tempo. Afinal de contas, a Turquia não é aqui ao lado.
Ele dirigiu-se a mim, baixou-se, e deu-me um beijo na testa e um abraço muito apertado. Enquanto me segurava perguntei-lhe se ao menos o veria no Natal. A sua resposta foi como várias agulhas demasiado afiadas a espetarem o meu estômago repetidamente. ''Não faço ideia...''
E antes que ele fechasse a porta do carro atrás de si, disse lhe de baixinho: ''Adeus João, quando chegares avisa-me, morro já de saudades.'' E uma última vez, antes que a minha vista deixasse de captar a sua silhueta no escuro do carro, traçou aquele sorriso caloroso que eu tanto adoro na sua face tristonha.
E, uma vez mais ele foi desaparecendo debaixo do meu olhar carregado já de saudade e lágrimas...

1 comentário:

  1. Está lindissimo o teu texto, a expressividade que lhe deste. Quem está ausente? :)

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