Professor, que saudades!
Ando há já algum tempo para lhe contar uma decisão que tomei, mas sempre que lha tentava expressar faltava-me forças e coragem, mas agora que me sinto capaz, dir-lhe-ei!
O professor sempre soube que eu tenho uma grade paixão pela música, mas aquilo que eu amo mesmo é cantar. E eu quero mesmo ter um futuro no qual o canto faça parte do meu dia a dia, e quem sabe (esperemos) seja até mesmo a minha profissão. A minha mãe sabia disso, e sempre ouviu os meus suspiros desanimados sobre o assunto, pois sei que será com certeza muito difícil. Então, ela lembrou-se de algo novo que me poderia animar. O Hot Club Portugal. Fiquei intrigada com a ideia, e não sei porque, houve algo que me disse para me agarrar com todas as forças a esta oportunidade. Foi muito, muito, mas muito dificil. Primeiro pela fase inicial de me sentir pesarosa por ter de deixar a EMNSC para entrar para o Hot Club, e consequentemente por ter de deixar o professor (assim como o professor Piloto). Depois, era a pressão que sentia quanto a entrar numa escola nova, a qual desconhecia completamente, assim como as pessoas dentro dela, fiquei nervosissima. E, para variar, a pressão que senti, porque eu TINHA de entrar para aquilo, algo me dizia que eu TINHA de conseguir, e eu tinha sempre em mim a sensação de que seria dificil de entrar para lá, por ser uma escola com tão boa fama e prestígio.
Embora eu quisesse muito alcançar a minha admissão na escola, parecia haver alguma coisa contra isso. A partir do momento que decidi inscrever-me, acontecia sempre algo de mal. No dia da minha audição, tive de apanhar o comboio para lá. Não é que estava na estação à espera do comboio e anunciam um acidente de anulou os horários, e não haveria comboio por bastante tempo. Fiquei stressadíssima, esperei cerca de 1:30h na estação, uma pilha de nervos, a pensar que ia faltar à audição. Eu já quase chorava. Mas lá veio o comboio, e apesar de ter chegado bastante atrasada à audição permitiram-me fazê-la. O profesor que ma fez ficou muito entusiasmado com a minha voz, e disse-me logo que tinha passado, e tinha conseguido entrar no HCP. Foi uma festa, eu até fiquei emocionada, assim como toda a minha familia. Ahah, nesse dia, para comemorarmos, até fomos jantar fora, e todos brindaram à minha ''vitória''.
Mas claro, nem tudo são rosas, e poucos dias depois, quando fui fazer a incrição para os horários, foi-me dito que não havia horários compatíveis com o meu horário escolar. Não havia maneira de entrar, eles não tinham alunos suficientes para formar uma turma para a tarde. Fiquei de rastos: depois de tanto esforço, dedicação, stresse e felicidade, tudo o que tinha feito não tinha dado em nada. Passei uma tarde inteira a chorar.
Mas felizmente a minha mãe não desistiu, e insistiu tanto com eles para que eu conseguisse entrar que lá me arranjaram uma solução, que devo admitir me deitou abaixo, pois essa solução obrigaria os meus pais a pagarem 800 e tal euros. Ponderei sobre o assunto, e no dia em que decidi desistir e optar por falar com os meus pais, informando-os de que eu até já me sentia desmotivada com tantas dificuldades que me apareceram, e que com certeza não valeria a pena tanto esforço. Mas quando me dirigi a eles para lhes comunicar a minha decisão eles lançaram-me um largo sorriso vitorioso, iformando-me que já estava inscrita. A minha mãe estava orgulhosa dela mesma por ter conseguido que eu lá ficasse. Eu fiquei contente, afinal de contas, era mesmo isto que queria, mas algo me deixou de pé atrás... Eu pensei que com tantos obstáculos, se calhar não era suposto eu entrar.
O meu primeiro dia de aulas lá foi na passada segunda feira, dia 26. Eu estava de novo uma pilha de nervos. (Eu não sei se o professor sabe, mas para lá, quem vai para canto, tem de se comprar um microphone. Eu não sabia, fiquei completamente fascinada e entusiasmada! Fui comprar o microphone, e quando cheguei a casa e o agarrei e comecei a cantar em frente ao espelho foi tão assustador que o arrumei e só voltei a desembrulha-lo na segunda para o levar para a aula.) Ainda por cima ia ter uma disciplina que nem sabia como é que funcionava. ''Combo'', uma disciplina de conjunto de vários instrumentos - mas quais? Quantos? Haveria mais alguém a cantar nesse ''combo'', como eu? Como é que isso funcionava? - e eu estava mesmo a ver que não me ia sair nada por causa da vergonha.
Quando estacionamos o carro e sai, eu encarei a escola e disse alto: Eu não sei porque é que estou a fazer isto. Já me arrependi. Realmente só eu é que me meto nestas coisas.
Entrei e dirigi-me à minha sala, e espreitei lá para dentro. Vi 2 rapazes e um adulto, mas o senhor da secretaria tinha-me informado que o professor ainda não tinha chegado, por isso aquele adulto não poderia ser o professor. Fiquei à espera que o professor chegasse, mas fiquei do lado de fora da sala. As minhas pernas tremiam imenso, eu estava a ver que caia ali. Não tive de esperar muito tempo, fiquei 3 minutos à porta da sala e o professor apareceu. Alto, meio arruivado, de olhos claros e um sotaque muito engraçado, convidou-me a entrar na sala à sua frente. Era inglês, com certeza. Entrei e ele fechou a porta atrás de si, enquanto eu me encostava à parede mais próxima da entrada. Os dois rapazes observavam-me, e o que estava mais perto de mim ofereceu-me o lugar vazio ao seu lado, dizendo que se encontrava livre. Eu acenei. disse ''sim sim!'' mas mantive-me em pé. Ele olhou para mim, e fez um trejeito com a cara. De certeza que estava a pensar que eu era doida. O professor disse-nos que iamos começar e eu lá me sentei ao pé do rapaz que me tinha oferecido a cadeira. Conversamos com o professor e ele informou-nos do que iamos fazer. Apresentámo-nos todos e rapidamente percebi que o rapaz que me oferecera o lugar que ocupava agora era o guitarrista, o outro rapaz era o pianista, e o adulto era o trompetista. Ah! Percebi também que eu era a única rapariga, assim como a mais nova. O professor saiu e foi buscar-nos partituras, e quando ele saiu entrou outro rapaz, bastante afugueado e arfar. Ele também fazia parte da nossa aula e era o baterista, e estava assim porque tinha vindo a correr da Faculdade. Eu continuava a ser a única rapariga, e claro, a mais nova. Agora muito resumidamente, trabalhamos todos muito bem, foi divertidíssimo, o professor gostou muito da minha voz, e adorou que logo na primeira aula conseguissemos tocar dois standarts. Eu posso afirmar que nunca me tinha sentido tão livre na minha vida. A aula acabou e ficámos de nos encontrar de novo na próxima segunda. Saí do edificio, e fiz o que me apetecia: berrei ''já devia ter feito isto há mais tempo!!'' A minha mãe não parava de sorrir, e todo o cansaço que eu tinha acumulado durante o dia, miraculosamente tinha desaparecido. Quando cheguei a casa estava tão contente que até lacrimejei um pouco e liguei logo a imensas pessoas a contar como tinha sido.
Agora... Agora sei porque é que eu me sentia na obrigação de entrar. Agora sei porque é que eu sentia que entrar era uma necessidade.
Eu queria ter-lhe contado tudo isto há mais tempo, e quem sabe, pessoalmente! (: Mas como deve imaginar faltou-me a coragem, e senti-me horrivel, porque senti que o estava a abandonar. Por isso, quase todos os dias pego na flauta e faço surgir os meus desvaneios livres.
Há algo que gostava de lhe pedir: Eu amava que me informassem quando é que vão fazer audições, pois eu espero ter disponibilidade para vos ir visitar e ver os vossos progressos.
Obrigada por todos estes anos, todo o apoio, os miminhos e por me estar sempre a motivar e puxar para cima. Garanto que hoje não seria como sou se não fosse o professor. E garanto, isto não é um ''adeus'', mas sim um ''até um dia''! (:
Beijinhos enormes e cheios de saudades,
Inês.