Admirar a expressão apavoradamente bela que se lhe espelhava no rosto com o choque, seria algo que qualquer um estaria disposto a fazer. "Acabou de se dar um terramoto na Turquia, de 6 de magnitude". Ela sentiu como se todo um mundo se tivera abalado mesmo em cima da sua cabeça, e todo o seu rosto ficou sem pinga de sangue. Incrédula. Era isso mesmo. Os sentidos abandonavam o seu ser, a berrar muito alto, à medida que se sentia lentamente desfalecer. Os olhos sem brilho, que transpareciam uma luminosidade devido às lágrimas aterrorizadas. Pavor. A boca irta, ligeiramente aberta. Muito pálida, ela tentou agarrar-se ao portão. Ninguém reparara em tal reacção, ninguém ouvira os gritos surdos que ela ansiava calar dentro de si. Apercebeu-se então que também ela deixara de ouvir. Um frio intenso fez com que a pele se arrepiasse, mas não devido à aragem que dançava e graciosamente roçava pelos seus braços nuos, mas sim um frio interior, uma sensação de vazio misturada com choque, pânico e pavor. Voltou a ouvir. A sua tia estava a dizer algo... mas ela nem percebia bem o quê. E de repente, as palavras soaram nítidas e translúcidas. "Ele ligou-nos. O terramoto não se fez sentir muito onde ele está. Ele está bem." E toda ela se sentiu a apagar.
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